Um dos assuntos mais recorrentes nas minhas crônicas trata sobre a mercantilização das manifestações artísticas. E o questionamento que sempre vem à baila é: até quando a arte, enquanto produto comercializável, é salutar? Será o dinheiro realmente fundamental para a arte, ou ele apenas contribui para a ditadura das artes? Sim, pois o dinheiro que compra é o mesmo que determina o que será consumido pela população. Isso seria um tema interessante para algum ensaísta transgressor – No Brasil todo ensaísta é um criminoso, um marginal da pior espécie. Aqui o intelectual é caçado como um boi ladrão e tem seus colhões arrancados em praça pública.
Mas não é sobre exatamente isso que pretendo tratar. Apesar de o meu assunto de hoje estar intimamente ligado à cultura de massa nacional. Quero falar sobre o filme do ano. E vejam, meus caros, que não se trata de nenhuma superprodução estadunidense. Desta feita, falarei sobre Tropa de Elite. O filme nacional que vem arrastando multidões às salas de cinema de todo país. Uma massa sedenta por sangue e por justiça. O cinema nacional vive mesmo dias de glória fundamentais.
Fui assistir ao filme. Duas vezes, aliás. A primeira assistência foi levada pelo emocional e pela expectativa. Na segunda, fui para melhor enxergar o filme. Ora, uma obra de arte que se preze deve ser relida e revista até que se sinta o ar que a circunda. Lembrem-se: ler é a arte de reler. Pois bem, o que vi me agradou profundamente. A produção do filme é, de fato, impecável. A fotografia é intimista e te leva a viver as aventuras dos comandados do Capitão Nascimento.
Na segunda vez que fui ver, quis prestar a atenção nas reações da audiência diante daquelas cenas tão realistas e fortes. Percebi algo curioso e, ao mesmo tempo, preocupante: as pessoas se deleitavam quando ocorriam as torturas, as rajadas de tiros, o autoritarismo do Capitão Nascimento. Eis onde eu pretendo chegar. Como o brasileiro aprecia a violência. Tropa de Elite tem um efeito catártico, onde o público excreta toda sua ira contra o crime organizado, ainda que utilizando dos mesmos subterfúgios. É preocupante ver crianças nas ruas sonhando em ser o herói do BOPE para torturar e matar bandidos.
O roteiro de Tropa de Elite trata de forma maniqueísta a relação entre polícia e tráfico, sendo a polícia – ou o BOPE, mais precisamente – o grande herói, o supra-sumo da razão. Enquanto o traficante é o vilão pérfido a ser incinerado. No meio do caminho estavam os estudantes que “financiam” o tráfico. A solução: subir o morro e matar a quem visse. Fica a questão: será mesmo esta a saída para a problemática do tráfico?
Sei que parecerei repetitivo. Paciência. Não existe cronista sem obsessão. Mas combater o crime organizado com violência é a recaída perfeita para o provisório eterno. É necessário ser firme com os criminosos, quanto a isso não há questionamentos. Mas e o futuro, me digam, e o futuro? Fundamental seria dar educação aos pequenos projetos de traficantes que moram no morro. Tirá-los daquela vida e dar a eles uma esperança de viverem além dos seus 15 anos com dignidade.
3 comentários:
essa "crise de violência" pode acabar com um reforço e aumento do poder judiciário e programas de ensino nas favelas... fora isso, ainda veremos muitos filmes com BOPE, tráfico e violência... Beijinhos
Super interessante o texto pc..
quero voltar e filosofar a respeito assim q o raio da minha pasta de estágio estiver pronta..
bjos.. keep writting!!
Ótimo texte, primo! Mais uma vez, parabéns!
De fato é um grande filme! E talvez não seja ruim ver traficante como "vilão pérfido a ser incinerado"! ... ... ... Não sei!
A reação do público foi bem descrita! Talvez seja da nossa natureza ser assim!
Logo as crianças brincarão com "o bonequinho do Capitão Nascimento", "a cabaninha do Bope" e até "a 12 do Matias"!
Cleidson Alves
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