30 de janeiro de 2007

SEGUNDA VIDA

Caríssimos, vivemos no limiar de uma revolução na humanidade. No entanto, não haverá derramamento de sangue e nem marias antonietas decapitadas, acalmem-se. Trata-se do advento da era digital, o qual pretende proporcionar uma evolução nas relações humanas. Não é de agora que as questões tecnológicas são amplamente discutidas e analisadas como os novos ovos de colombo ou os recém descobertos caminhos para a Índia. A verdade é que estamos repletos de velhas novidades. Refluxos de invenções envelhecidas pela velocidade efervescente das informações.

A voracidade da tecnologia permite que esqueçamos cedo a nossa essência mais fundamental. Preocupamos-nos com o novo lançamento da Apple, mas negligenciamos os mendigos na rua. Eis onde pretendo chegar. Somos hoje o Homo Digitalis, mas continuamos tendo ulceras e cefaléias aterradores. De que adianta criarmos um perfil no orkut, onde somos tudo o que queremos ser, se a nossa essência humana anda cada dia mais degradada, medíocre?

A vida digital tem por pretensão sanar nossas carências, aproximar pessoas. Mas vejam, meus caros, que os efeitos colaterais são terríveis. Em pouco tempo não existirá mais o olho no olho, o calor da pele a roçar. O sexo virtual e seguro será uma modalidade óbvia e ululante. Eis o grande risco: e o ser humano, e a preservação da espécie, onde residem nesse processo?

Essas novas relações humanas assumem perspectivas cada vez mais ameaçadoras. Há o risco iminente de ocorrer um colapso social, uma crise de identidade coletiva. A última velha novidade é um jogo virtual chamado Second Life, onde você tem, numa tradução literal do inglês, sua segunda vida. Vejam, caríssimos, que a tecnologia nos permite um adendo, um prolongamento do nosso ser. E o mais interessante nessa história é que podemos vestir a máscara que melhor nos convier para participarmos dessa nova vida. O homo digitalis criou também mais um disfarce virtual para suas frustrações.

Chegaremos, assim, a um lugar obscuro e inadiável. Numa interiorização, perceber-se-á que os avatares e profiles contribuíram para cavar ainda mais o abismo entre as pessoas. O homem que já se alienou durante décadas no trabalho ou pela TV, verá seu íntimo invadido por hackers destrutivos e adwares maliciosos. A Internet é o grande refúgio para os idiotas. Aqui reside um problema inequívoco. Uma sociedade que se preze necessita de grandes homens e de idiotas. Não se faz um país só com gênios e nem só com idiotas. Pois no mundo virtual há somente notáveis, dignos de um Prêmio Nobel.

Viajo nessas palavras, mas gostaria de falar sobre João Guimarães Rosa, o maior escritor de nossa língua. Não conseguiria dormir essa noite se não fizesse qualquer menção, mesmo que escassa, sobre esse gênio estilístico. E o que diria o poeta roseano sobre esses tempos modernosos? Talvez, no seu rebuscamento, falaria da alma humana que navega por mares virtuais em busca da redenção de seu espírito. Em outro momento, falarei mais sobre esse mineiro inesquecível. O grande homem injustiçado. Haveria de se sugerir um Nobel póstumo à Guimarães Rosa. Fica o meu casto protesto.

4 comentários:

Anônimo disse...

Um bom titulo, é assim que eu o vejo, pois concordo muito com o que fora escrito, são vidas sendo estragadas por essa tal internet.
Claro, não se pode generalizar, em partes a internet é um avanço extraordinário. A tecnologia é impar,pelo que sei ainda não inventam algo que a posso ultrapassar, pois todos os dias a aperfeiçoam tanto que se torna difícil competir.
O problema é que muitos a utilizam como fora colocado no texto. As pessoas esquecem que existe o mundo real, se torna cada dia mais raro encontrar alguém que não faça da internet um refúgio monstruoso, repleto de malícias e sexualidades infindas.
Envergonho-me em ver crianças e adolecentes se perdendo nesta Segunda Vida, mudando as prioridades, trocando carrinhos e bonecas, por uma tela fria e sem emoção.
O que espera meu filho quando começar a descobrir o mundo virtual?
Prefiro não me decepcionar antes da hora.
ENFIM, PARABÉNS AO AUTOR !!!

Anônimo disse...

Obrigado PRISCILA pelo comentário.

Anônimo disse...

Toda grande nova descoberta que revolucionou a comunicação causou essa dúvida.

Foi assim com o telegrafo, com o telefone, com a televisão e agora com a internet.

"Manda o menino dar o recado, esse tal de telefone pra quê? Ele vai num pulinho..."

Acaba sendo apenas mais uma forma de contato social, o ser humano acaba buscando contato fisico, precisamos disso.

Sempre ouço falar que a internet acaba com os relacionamentos, que a internet prejudica, que deus me livre se meu filho ficar muito tempo conectado...

E os benificios? Imagine, seu filho conectado à um mundo de informação? Informações de qualidade, sem qualidade e aquelas que era melhor ele não ver, mas tudo bem!

O mundo sempre foi assim, sempre teve um lago negro.

Estimular o senso critico de nossos filhos é a única maneira que temos de proteje-los... É assim, sempre foi e acredito que sempre será...

Anônimo disse...

seus textos tem demasia arte poética!