16 de julho de 2007

DIAS PARA A ETERNIDADE

Meus caros, outro dia falei aqui mesmo nesse espaço a respeito das efemeridades do cotidiano. Como são áridos, sofríveis. Como é triste ter apenas o dia corriqueiro para se falar, tal como um peixe e seus microneurônios. Costumo falar que tenho uma memória intra-uterina. Me lembro de fatos passados como se os tivesse vivido. É estranho, mas minhas encarnações passadas devem estar tão frescas a minha mente quanto a lembrança do que eu comi no almoço hoje. Me chamem de louco, pois o normal me ofende.

Não é bem sobre isso que eu pretendo dizer. Apesar de não ser afeito a falar sobre o cotidiano, quero dedicar algumas linhas ao último fim de semana. Ah, não viveu quem não se emocionou nestes dias – ou melhor, não é brasileiro quem não sentiu lá no fundo um orgulho apraz de ter nascido no Brasil. Primeiramente, houve a festa de abertura do Pan Americano do Rio de Janeiro. Evento maravilhoso, sem precedentes no país.

Antológica também foi a vaia ao nosso estimado presidente. Ora, não há demonstração mais legítima de desprestígio a um homem público que a vaia. Cuspam-lhe a cara, mas não o vaiem. Xinga-o de canalha, mas não ensaiem em multidão o apupo maledicente. Eis que Lula foi ruidosamente vaiado por alguns minutos. O suficiente para que se tome a real noção sobre o descontentamento de um povo. O presidente, enrubescido, se negou a falar. Fato que apenas piorou sua já execrada imagem. Menos mal. Poupou-nos de suas palavras desagradáveis, suas metáforas de botequim.

Por si só – Somente por essa vaia – o Pan já é um sucesso absoluto. Pode acabar a água dos vestiários, faltar luz, a segurança falhar. Não importa: o Pan já valeu à pena. Mas nem só de apupos se fez o fim de semana. A vitória da Seleção Brasileira foi, novamente, o motivo maior do resgate da autoconfiança nacional – falo aqui de duas Seleções: a de Vôlei e, claro, de Futebol.

A Seleção de Vôlei foi campeã mundial novamente. Numa doce rotina de vitórias incontestáveis.
Mas a de Futebol, ah essa merece o nosso destempero verbal, nossa elogiosa menção. Amigos, o futebol é o único esporte onde o placar é burro. Nem sempre o vencedor no placar é o vencedor legítimo e irrefutável. Pois eu vos digo: o time do técnico Dunga não é o campeão real. Fez uma Copa América lamentável, com atuações pífias contra adversários fraquíssimos. Por isso foi chegando até a final. Do outro lado, a Argentina jogava o verdadeiro futebol brasileiro, com habilidade e toque refinado.

Mas eis que o Sobrenatural de Almeida – reporto-me a Nelson Rodrigues – resolveu trajar-se com a camisa canarinho, penta campeã do mundo. Sim, ele jogou e jogou muito bem. Empurrou o chute do Julio Baptista para o ângulo do Albondanzieri. Soprou nos ouvidos do Ayala que ele precisava interceptar aquela bola que morreu no segundo gol do escrete. E ainda, fez Elano se machucar para a entrada do desconhecido Daniel Alves, autor do terceiro e definitivo gol brasileiro. Sem contar, que o Sobrenatural resolveu dopar Riquelme e Messi – os argentinos mais fundamentais – para que eles parecessem que haviam comido uma feijoada baiana antes da partida. Venceu a Seleção novamente. Com méritos, é bom que se registre. Teve gana, sangue nos olhos.

Os Argentinos com seu time principal viram ir por terra os planos de vencer a Copa depois de 14 anos e, novamente, para o Brasil. E o pior, um Brasil com um time underground, bizarro, com quatro volantes no meio-campo, com o terrível Vagner Love e um goleiro nada confiável. Sem qualquer ufanismo, esse fim de semana foi mesmo surpreendente. Outro desses, só no próximo eclipse do sol.

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