Amigos, há na vida poucas definições transcendentais. Uma destas formulei já faz um tempo. Certa vez, num grupo de amigos, decretei: a matemática é uma ciência burra. Alguns olhos arregalados me fitaram e se entreolharam. Tratei de me explicar. A matemática que os jovens estudam é burra, pelo simples fato de se prender ao imperialismo das fórmulas. Algumas delas são de uma inutilidade atroz. Sou incapaz de esquecer, certa vez, quando numa prova de matemática, para a qual eu não havia estudado, e decidi usar a lógica para resolver. No momento em que eu recebi a nota, para a minha surpresa, os resultados em que eu havia chegado estavam certos, mas o professor validou apenas metade das questões, pois eu não havia utilizado as fórmulas. Percebam a atitude ignara de um mestre.
Por essas, me enveredei pelo mundo das letras e ciências humanas. A pena disto é que me considero um analfabeto matemático. Aprendi somente o indispensável, para conseguir sair do colegial. Mas não é sobre isso que eu pretendo falar. Há um fenômeno que vem ocupando as áridas discussões televisivas, e também as famigeradas páginas das revistas de negócios. Isto por que existe uma linha de profetas do acontecido que teimam em predizer: A China dominará o mundo.
Ora, meus caros, não há ser vivente nesse mundo que me convença disso. Vocês podem objetar: “mas e a taxa, a taxa de crescimento dos chineses”. Repito, a China é, de fato, um fenômeno de marketing. Eles vêm crescendo sim, mas nas paginas de revistas ditas importantes, nos noticiários dos jornais, no jogo de palavras dos economistas. Não creio no domínio chinês, e argumento – eles não resistirão por muito tempo aos apelos humanitários que hão de flagelar o método chinês de trabalho. Lá a escravidão é algo banal, uma praxe para as fábricas e indústrias.
Já escutei alguns amigos declamarem que se trata de uma questão cultural. Os chineses já nascem para o trabalho e não se importam com as condições para o mesmo. Pois eu redarguo: à medida que a China vai avançar para o mundo, o mundo vai avançar para a China. O povo daquele país há de se ver seduzido pelos pecados capitais e, como humanos que são, vão adquirir a consciência que aquela vida não lhes satisfazem. O capitalismo há de corromper a China, assim como já corrompe um santo encerrado em seu caritó. Eis que quando isso ocorrer será o fim de mais um tigre asiático, pois a China é tão competitiva, tão agressiva, graças a sua mão-de-obra gratuita.
Tenho a míope impressão que Mao-Tsé-Tung se revira no profundo da sua sepultura quando esses profetas que insistem em colocar a China como uma potência econômica. Pequim há de ser palco da revolução que se aproxima daquele povo. As marias antonietas imaginárias serão decapitadas, as fábricas idealizadas para os subumanos trabalharem serão incineradas. O povo chinês vai protestar pelo direito de comer Big Mac e beber Coca cola. A sereia capitalista vai declamar seu canto fatal. E será o fim do mito.
Esse exercício de futurologia eu o faço sem base em números ou estatísticas. Até por que não serei de tamanha incoerência. A matemática, os indicadores, objetam contra minhas conjeturas. Mas, com toda sinceridade, não acredito na frieza siberiana de dados estatísticos. Acredito muito mais na natureza humana que há de ser reacionária o suficiente para derrubar mais esse paradigma que teima em se manter como incontestável.