Há no mundo coisas absolutamente incompatíveis. Ou o homem deve e é bom pagador, ou ele é um artista. Não existe arte que resista ás questões financeiras. O dinheiro, na sua racionalidade atroz, é capaz de destruir qualquer criação da alma humana. Há, dessa forma, uma contramão, duas propriedades que vão de encontro. No mesmo instante, existe também a corrente que diz: o dinheiro é que sustenta a arte. Até pode ser uma realidade, mas há um engano escondido nessa ideologia. Geralmente, os grandes artistas são desprendidos do materialismo obsessivo que permeia o mundo dos negócios. No entanto, eles conseguem a realização financeira de uma forma natural, por que são grandes, têm estrela.
Fiz toda essa introdução argumentativa, porque gostaria de falar hoje do maior artista vivo do Brasil. Falo de Chico Buarque de Holanda. Um homem que conseguiu ser um fenômeno absoluto no nosso país. Não falo aqui sobre vendas de discos ou público
Dessa analogia é que surgem produtos absolutamente lamentáveis, como reality shows, novelas que nos dão a impressão de um deja vu a todo o momento, melodias e canções tétricas como funks, axés e outros bichos. A contra cultura de massa é a mais absoluta degradação da qualidade dos produtos culturais.
Essa putrefação cultural guarda perspectivas ainda mais cruéis. Exemplo disso é o próprio Chico Buarque de Holanda. Quando surgiu para o mundo artístico, o jovem Chico era conhecido como um promissor cantor/compositor da música popular brasileira. Gênero musical que era recebido com um esgar de soberba pela elite cultural do Brasil. De fato era música para o povo, para o operário e a dona-de-casa. Vejam que hoje a generalizada MPB está elitizada. Hoje o público que escuta as canções do Chico Buarque de Holanda é considerado cult. Tal como a história é cíclica, me leva ao seguinte raciocínio: daqui a 20 anos, o popular de hoje será produto de elite. Os funkeiros serão elevados a intelectuais, poetas. E o fato ainda mais terrível eu ainda não foi dito: fico imaginando o lixo que virá para ocupar o playlist dos jovens da próxima geração.
Mas eu falava de Chico Buarque de Holanda. Ele que apesar das pressões da cultura de massa, se impõe com sua qualidade, sua poesia. Eu conheci Chico Buarque de Holanda tardiamente. Me fora apresentado em sua plenitude pelo amigo cineasta e músico Tiaraju Aronovich. Antes eu já apreciava Chico, porém apenas aquelas canções que permeiam o imaginário popular e são obrigatórias. Fui tomar gosto sobre a obra de Chico Buarque de Holanda por completo bem depois, recentemente.
Chico Buarque de Holanda pode se dar ao luxo de lançar álbuns esporádicos, evitar a super exposição na mídia e ainda assim permanecer nas nossas memórias. Minhas reflexões sobre Chico Buarque de Holanda caminharam para o seu estilo de vida. Ele é um dos poucos da sua geração que ainda gozam do privilégio de viver de arte, fazer disso o seu ofício mais prestimoso. Confesso ser esse o meu sonho mais antigo e profundo. Apesar de muitos fatores externos contribuírem contra, eu ainda teimo em segui-lo com alguma sagacidade.
Num país onde a imensa maioria é de desinformados virtuais, onde as mensagens curtas ancoradas em imagens são as primeiras lidas – e também as primeiras esquecidas, devido a sua efemeridade – ser escritor é ser um contraventor, quase um alienígena. Às vezes me aventuro a convidar alguns amigos a visitarem esse meu espaço virtual, para que eles possam ler as minhas idéias e compartilha-las comigo, e, ora por vez, recebo as respostas “Depois vou ler com calma” ou pior “Tenho que ler tudo isso?”.
Vejam amigos, o que a cultura do imediatismo, das mensagens passageiras está fazendo com o cérebro do nosso povo. Quando esses amigos terão calma e paciência para me ler, sinceramente não sei. Creio que nunca. Mas assim como Chico Buarque de Holanda quero perseguir esse sonho com voracidade. Sei que posso ser perseguido, negligenciado como um boi ladrão. Todavia é necessário. Se terei reconhecimento, honestamente, não sei. Duvido, inclusive. Até por que, escritor famoso no Brasil, é escritor morto. Numa analogia, todo escritor deveria ser um morto-vivo, um zumbi poeta, recitando versos para um coruja aboletada no muro sombrio de um cemitério.
Um comentário:
Paulo, interessante pensar como essas coisas de arte estão acabando.
Para a nossa infelicidade. Mas ainda existem os heróis da resistencia.
Abraços.
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