Não há época mais antiga que a nossa. E repito: somos os contemporâneos mais saudosistas que jamais existiram nesse mundo. Sei que muitos hão de objetar: mas e os avanços tecnológicos e a era dos pc’s, da Internet? Ora vejam, estamos em plena revolução digital dos meios de comunicação e, assim mesmo, vivemos uma nostalgia faraônica. Hoje se cultiva o obsoleto, o retrógado.
Outro dia, voltando para casa de trem, observei um grupo de adolescentes que encaminhavam para alguma festa. Eu os observava de longe com uma curiosidade mórbida (toda curiosidade é mórbida). Mas eis que os jovens se trajavam semelhantes a um Elvis, e outros possuíam cabelos repuxados para o centro da cabeça e erguidos, tal como é a estética punk. O leitor já me entendeu, com efeito. Não havia naqueles jovens uma mísera, escassa aparência de século XXI. Se algum indivíduo tivesse dormido em 1965 e só acordasse agora, em 2008, ali naquele trem, e presenciasse aquelas criaturas, decerto afirmaria: cochilei por meros 15 minutos.
A moda comumente chamada de retrô vem ocupando as vitrines, as grifes famosas, os corpos de Gisele Bündchen. Às vezes me sinto alardeando o óbvio. Paciência. Mas o fato é que a busca por esse passado, essa estética de décadas anteriores a nós mesmos é a demonstração evidente de que não possuímos ídolos em nosso tempo. E um povo sem ídolos é um povo sem cara, um narciso sem espelho. Falei outro dia aqui mesmo nesse espaço virtual que o último grande ideal do brasileiro foi a luta pela Diretas Já. Depois disso, tudo que ocorreu foi intranscendente, efêmero. Tancredo foi o último grande homem popular e temos na perspectiva daquela época uma distancia abismal, um atlântico espaço de tempo de vinte e poucos anos.
Os avanços nas comunicações, na tecnologia em geral, têm gerado um esvaziamento humano. Hoje somos 6 bilhões de universos diferentes convivendo no mesmo planeta, devastando-o para a eternidade com vistas para a nossa conveniência, nossa zona de conforto. O sexo virtual é a mais comum e atual forma de relação. Com o advento das doenças venéreas e fatais, somos abdicados ao ato sublime realizado intermediado por máquinas e cabos de fibra ótica.
Outro dia li sobre uma nova tecnologia que surge com vistas para a substituição do DVD. Vejam, meus caros, que há tantas e tantos que nunca tiveram contato com o fascinante mundo do DVD, e quando os tiver já será algo obsoleto, ultrapassado. No artigo falaram na tecnologia Blu-ray que virá para colocar no bolso do colarinho tudo que existe hoje em referência à imagem e som. Essa será a ultima velha novidade. Quase ao mesmo tempo, também tive acesso a um movimento de músicos que apregoam a volta dos discos de vinil. Isso mesmo, a radiola egípcia da vovó voltará à ativa. Presenciaremos verdadeiros antiquários digitais, com aqueles proprietários empoeirados até os olhos.
Não há a mínima coerência (afinal não se pode esperar do ser humano a coerência). A cada novo avanço tecnológico, agimos como náufragos do Titanic em busca de um apoio pretérito. O que isso me sugere é um desespero voraz, um grito de socorro. O homem está se esquecendo do homem. Os robôs serão a nossa mais dramática redenção.