11 de janeiro de 2008

LADRÕES BENFEITORES

Como é difícil explicar o que ocorre quando resolvemos viver aquilo que nos foi traçado desde encarnações anteriores a nós mesmos. Vejam que tenho a convicção absoluta que nasci para trabalhar com palavras, arquitetar frases, moldar textos, construir sonhos revestidos de alocuções. Eis que nascido com tal missão nessa vida, me vi afastar-me do meu destino transcendental. Por motivos alheios aos meus mais inconfessáveis desejos, tive meu caminho traçado pela abjeta necessidade de dinheiro. Assim sendo, fui vítima de mim mesmo e perdi o foco do objetivo que me sustenta vivo nessa Terra.

Sim, o dinheiro. Como disse Caetano: “a força da grana que é e destrói coisas belas”. O dinheiro é lidado como o objetivo final, a razão de nossas mal amadas vidas. E quem vive e se escraviza pelo dinheiro é de uma aspereza de palha de aço. O dinheiro corrompe tudo, até mesmo um santo encerrado em seu caritó. O dinheiro que sustenta a arte e, ao mesmo tempo, a torna a negação da própria arte, a ex-arte. A lógica capitalista me é exaurante, inóspita. Não consigo enxergar o mundo sob essa ótica simplista comercial.

Todavia, o aspecto mais angustiante e tenebroso de tudo isso é que não posso vislumbrar outro caminho para a vida, que não me deixar prender em senzalas para sobreviver. Sei que divago em utopias, me perco em argumentações líricas para algo tão robustamente objetivo como o capitalismo. Mas eu me aproximo do meu objetivo nesse texto.

Hoje gostaria de falar sobre as benfeitorias que o destino trata de arquitetar. Por caminhos tortuosos, incompreensíveis a nós, pobres encarnados, os ladrões das obras de arte do MASP foram responsáveis por uma boa ação indiretamente. Nunca, desde a sua fundação, o Museu de Arte de São Paulo ocupou tanto a mídia que, no seu sensacionalismo atávico, quis ressaltar um crime. Mas esse ato, de crime puro e genuíno, teve muito pouco. Repito, esse foi o melhor crime que já ocorreu no Brasil.

As obras de Picasso e Portinari foram surrupiadas numa tentativa de se corromper a arte pelo dinheiro. E agora, essas obras de arte, bem como todo o museu, ganharam uma exposição similar à que têm as nadegas do BBB, os surtos de Britney Spears, os tiros nas favelas. O caso ganhou até um destaque internacional (para o enrubescimento de nossas faces). Agora, as obras do MASP serão, finalmente, dignas de uma segurança reforçada e de novos investimentos para o museu que é um marco na evolução da nossa cultura. Sim, pois a Semana de 1922, fato impulsionador do Modernismo no país, é a maior manifestação cultural da história do Brasil. Tomara que esse incidente provoque um novo e sobressaltado movimento modernista.

Um comentário:

Flávia Leão disse...

adorei esse roubo, e adorei a repercussão! ainda bem que as obras foram resgatadas!
agora o museu recebe mais visitas, mais cabecinhas abertas!!!!

o MASP é um dos mais fantásticos museus brasileiros!

E agora com tanta mente borbulhando lá dentro, veremos Pagu, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral felizes da vida com o povo brasileiro!!!