Amigos, me abomina falar sobre o assunto da política no Brasil. Sei que enquanto cronista, não posso me furtar a esse tipo de tema nos meus textos. Mas confesso que preferiria mil vezes falar sobre filosofia, amor, artes, futebol a falar sobre esses senhores que fizeram e fazem da nossa política uma das mais asquerosas do mundo. Tenho pra mim que qualquer manifestação artística deve ser transcendental e por tal, não deve se prender à aridez da sua contemporaneidade. Os grandes gênios artistas o foram assim denominados pela característica atemporal de suas obras. Assim sendo, procuro não me ater sobre assuntos da nossa efêmera atualidade. Sei que a memória do nosso povo é de peixe e, amanhã, nada que eu disser aqui sobre Renan, Marta ou Lula terá algum sentido.
Eis que chego a um ponto mais interessante da minha crônica, mas não decisivo. Outro dia um amigo me relatou que estava a bordo de um trem lotado – praxe dessa megalópole paulistana. E uma senhora (ou seria senhorita) conversava com outrem no mais alto dos tons. Sua voz estava à fronte como uma soprano interpretando Ave Maria de Schubert. Era uma pobre funcionária pública que trabalhava no Serviço de Proteção ao Crédito. Os funcionários públicos possuem a burocracia como seu ofício preferido. Eles se protegem dentro daquele sistema de castas e tentam sempre se furtar a qualquer responsabilidade. O grande mal não é a burocracia, mas quem dela faz uso.
A senhorita – podemos assim convencionar educadamente –, segundo meu amigo, maldizia sobre os pobres endividados com os quais ela tinha de lidar todos os dias. Seu ódio parecia escorrer de sua língua, tal qual uma cobra de Cleópatra, e sua voz se confundia com o rugido os trilhos do trem. Eis que ela bradou: “Quem deve não tem vergonha na cara”. Ela foi olhada e entreolhada por todos os passageiros daquele vagão. Ora ela falava mal do Corinthians no meio da Fiel – ou pior, em pleno Pacaembu em dia de clássico contra o São Paulo, quando os ânimos ficam hiperbolizados.
O companheiro da senhorita ainda tentou contemporizar “cada caso é um caso”. Mas a indiscreta madame não se conteve e ainda reforçou sua intempérie verbal “são um bando de sem vergonhas”. Não houve, contudo, reação alguma por parte dos passageiros que escutavam aquela opereta mal interpretada – e sabem o por quê? Aquela senhorita desfechou uma bofetada na cara de todos que estavam ali. E os pobres, como assim são, foram pudicos demais para admitir suas condições de devedores. É condição natural dos pobres a vergonha, pois a fome é o mais casto dos sentimentos. Na fome não há pecados, tampouco crimes. Nenhuma daquelas pessoas que ali estavam teria a coragem de se levantar do seu assento e revidar o tabefe nas fuças daquela desbocada senhorita.
Eis onde eu pretendo chegar: o brasileiro é um endividado nato e hereditário. Desde que nascemos, já temos nas barras de nossas fraudas boletos para quitarmos. E se não o fizermos, já não se trata mais de uma questão de honra, como outrora. Hoje em dia a inadimplência é moda. Entre a nossa classe média falida e sufocada pela carga tributária sem fim, tornou-se lugar comum ser um feliz destinatário de cartas e mais correspondências nos avisando sobre nossas dividas.
No Brasil, o verdadeiro bobo é aquele Sr. Honestidade, que paga a todos, que procura sempre negociar. O mais curioso é que se se procura negociar uma dívida antes que ela vença, para não sujarmos o nosso patrimônio transcendental que é o nosso nome, somos tratados com descaso. Eles riem de nossa cara. Isto por que existe hoje a indústria da inadimplência, onde o grande negócio é você não pagar e depois negociar os juros astronômicos, retumbantes.
Pobres de nós da classe média. Pobres de nós.
Eis que chego a um ponto mais interessante da minha crônica, mas não decisivo. Outro dia um amigo me relatou que estava a bordo de um trem lotado – praxe dessa megalópole paulistana. E uma senhora (ou seria senhorita) conversava com outrem no mais alto dos tons. Sua voz estava à fronte como uma soprano interpretando Ave Maria de Schubert. Era uma pobre funcionária pública que trabalhava no Serviço de Proteção ao Crédito. Os funcionários públicos possuem a burocracia como seu ofício preferido. Eles se protegem dentro daquele sistema de castas e tentam sempre se furtar a qualquer responsabilidade. O grande mal não é a burocracia, mas quem dela faz uso.
A senhorita – podemos assim convencionar educadamente –, segundo meu amigo, maldizia sobre os pobres endividados com os quais ela tinha de lidar todos os dias. Seu ódio parecia escorrer de sua língua, tal qual uma cobra de Cleópatra, e sua voz se confundia com o rugido os trilhos do trem. Eis que ela bradou: “Quem deve não tem vergonha na cara”. Ela foi olhada e entreolhada por todos os passageiros daquele vagão. Ora ela falava mal do Corinthians no meio da Fiel – ou pior, em pleno Pacaembu em dia de clássico contra o São Paulo, quando os ânimos ficam hiperbolizados.
O companheiro da senhorita ainda tentou contemporizar “cada caso é um caso”. Mas a indiscreta madame não se conteve e ainda reforçou sua intempérie verbal “são um bando de sem vergonhas”. Não houve, contudo, reação alguma por parte dos passageiros que escutavam aquela opereta mal interpretada – e sabem o por quê? Aquela senhorita desfechou uma bofetada na cara de todos que estavam ali. E os pobres, como assim são, foram pudicos demais para admitir suas condições de devedores. É condição natural dos pobres a vergonha, pois a fome é o mais casto dos sentimentos. Na fome não há pecados, tampouco crimes. Nenhuma daquelas pessoas que ali estavam teria a coragem de se levantar do seu assento e revidar o tabefe nas fuças daquela desbocada senhorita.
Eis onde eu pretendo chegar: o brasileiro é um endividado nato e hereditário. Desde que nascemos, já temos nas barras de nossas fraudas boletos para quitarmos. E se não o fizermos, já não se trata mais de uma questão de honra, como outrora. Hoje em dia a inadimplência é moda. Entre a nossa classe média falida e sufocada pela carga tributária sem fim, tornou-se lugar comum ser um feliz destinatário de cartas e mais correspondências nos avisando sobre nossas dividas.
No Brasil, o verdadeiro bobo é aquele Sr. Honestidade, que paga a todos, que procura sempre negociar. O mais curioso é que se se procura negociar uma dívida antes que ela vença, para não sujarmos o nosso patrimônio transcendental que é o nosso nome, somos tratados com descaso. Eles riem de nossa cara. Isto por que existe hoje a indústria da inadimplência, onde o grande negócio é você não pagar e depois negociar os juros astronômicos, retumbantes.
Pobres de nós da classe média. Pobres de nós.
Um comentário:
Seria essa senhora uma leitora voraz de VEJA? Adoradora do Jornal Nacional, amante do Arnaldo Jabor?
ate eu quero dar uma bofetada nela!!!
Eta classe media alienada!
beijosss grande escritor
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