11 de novembro de 2006

MARX DE BOLSO

Quando Jesus Cristo afirmou “Diga-me com quem andas, que eu te direi quem és”, houve aqui a institucionalização do preconceito. A sabedoria do homem de Nazaré é notória. Afinal, como explicar os dois mil anos de cristianismo? Mas aqui ele, até mesmo ele, teve uma infeliz colocação. Vejo Jesus Cristo como um grande líder, um homem que marcou seu tempo. Mas vejam, leitores, até o grande homem comete equívocos.

Fiz essa breve (e sei polêmica) introdução para falar sobre os fenômenos sociais. O homem à partir de que começou a viver em sociedade nunca mais foi o mesmo. Temos uma essência solitária, introspectiva. Vivemos em sociedade apenas e somente por sobrevivência. Esse conflito entre o homem só e o homem social é marcante em nossa espécie. Temos em nós mesmos marcas depressivas, profundas, que são mascaradas por sorrisos sociais. Ao que se percebe, o homem nutri um medo absurdo de si mesmo. Não nos aturamos como somos. Precisamos a cada momento nos travestir de ilusões para sermos compreendidos e aceitos por um grupo. Tudo para não nos depararmos conosco mesmo no espelho.

E quando a solidão nos é inexcedível, surge a perspectiva de pequenos grupos, aos quais se convencionou chamar de tribos. Elas possuem a missão de aglutinar seres perdidos nesse mundo em busca de identificação. É interessante notar que esses cardumes humanos exigem preceitos e regras. Há que se pensar assim, que se vestir assaz, que se comportar assado. Ocorre nesse instante uma sublimação do individual em busca da carteirinha acessiva às tribos.

Mas agora chego onde pretendo. Vem surgindo uma modalidade de tribos perigosa, assustadora. Formada por jovens egressos de universidades os quais possuem, cada um deles, o seu Marx de bolso, sua carteirinha do niilismo com foto 3x4. Pessoas que se acastelam num idealismo infundado, e agem com uma pretensão intelectual patética. Geralmente, são partidários do socialismo utópico, mas leram apenas as orelhas dos livros de Engels. São o que a categoria dos catedráticos chamariam de cultos de enciclopédia. Eles não defendem uma idéia, mas sim uma pose. Muitos deles se dizem ateus, herbívoros, naturalistas, macrobióticos, mas escondem uma hipocrisia repaginada e, geralmente, mascarada pela sua veemência ao falar.

O que mais apavora é que esses jovens são pretensamente os futuros deputados, ativistas, executivos. Eles farão o Brasil do futuro. Discutirão a revolução do proletariado encerrados em uma sala carpetada e com um ar condicionado polar, e lindamente instalada num edifício com um chafariz no rol de entrada. Os neo-marxistas são consumistas vorazes, porém, jamais abandonam o discurso inflamado sobre a fome no nordeste. A profundidade de seus raciocínios se confunde com a de um pires. E outra característica são as freqüentes citações. Os jovens revolucionários do século XXI adoram declamar citações. Até mesmo quando lhe dizem um inocente “Bom dia”, eis que vêm os dois pontos e as aspas pedantes. Isso sem sequer compreender a complexidade do que se proferiu.

É por isso que eu tenho a convicção de que a leitura deve ser sempre antropofágica. É preciso não apenas que ler, mas sim degustar, engolir e depois excretar o que se leu. Além disso, vejo que há de se abandonar a hipocrisia idealista, pois ela corrói sadicamente o âmago de qualquer expectativa de mudança.

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande PC! Gostei muito do texto! Mais uma vez minhas sinceras congratulações!
Serão palavras duras pra quem se sentir ofendido! Mas a verdade é dura!
Abraço!!

Anônimo disse...

3 conselhos úteis:

1) vivemos na era capitalista

2) leia Kant. Ele explica bem esse assunto

3) assista náufrago (ele dará muitas respostas)