Eis que se achega mais uma festa natalina. Há tantos significados para esse momento. Para mim, talvez, um instante de rechaço das atividades laborais. Para outros, um momento em que o consumismo se inflama de forma jacunda, inescrupulosa. Pois eu tenho aquelas convicções que me refletem: o Natal é a festa mais anticristã que existe. Sobretudo no Brasil, é um momento onde as diferenças sociais ganham uma terceira dimensão, com efeito. Mas basta de polêmica. Hoje não é sobre isso que eu pretendo falar.
Pretendo sim, me repetir. Porém sem me tornar repetitivo, se é que me entendem. Quero falar sobre o assassínio descarado que sofre a nossa língua portuguesa. Durante os passeios de jangada pelos sites de relacionamento, fóruns e chats na Internet pode-se notar um apedrejamento fatal dos verbos e adjetivos, como uma Maria Madalena sem Jesus Cristo (cá estou eu falando dele novamente).
É fato que o nosso grande antagonista nessa história é o analfabetismo, ou o analfabetismo funcional que a maioria da nossa gente agrega. Sim, o brasileiro é um analfabeto atávico e insubmersível. Mas esse drama estava escondido, recolhido pelo silêncio e a passividade. No entanto, com o advento das comunidades virtuais, o brasileiro sentiu-se um Moisés pronto e já seco diante de Michelangelo no crucial e histórico momento em que o gênio disse: “Parla”.
E Moisés emudeceu-se. Teve a ternura e o pudor inarredáveis daqueles que não tem o que falar e assim se calam. Já o brasileiro, na sua latinidade crônica, subverteu seu criador. A criatura desbancou-se a falar aos borbotões e mostrar toda sua literatice e pasmou o gênio.
Alguns objetarão, dizendo que esse fenômeno é a evolução da língua portuguesa. Pois eu vos digo. O português não é uma língua para “bate-papos”. É uma língua reflexiva, conjugada, concordada. Requer do seu orador uma introspecção, um exercício mental para ser emitida. O português não é língua de analfabetos subdesenvolvidos. Por assim dizer, não é a língua de um brasileiro autêntico. Se insistimos em falá-la é por uma cristalina teimosia, bem inerente ao povo latino.
Não imagine, meu caro leitor, que eu me incluo fora desse aspecto. Sou também um Moisés subversivo, tagarelante. Admito meu mau português e o faço sem nenhuma falsa modéstia. A verdade é que o escritor, ou pretenso escritor brasileiro sofre de uma solidão cava. Somos um povo que escreve mal para um povo que lê ainda pior. E agora, com a liquidez efêmera da internet, a leitura tem se tornado cada vez mais secundária. Não é preciso ler, apenas olhar.
Ai de nós, moiseses subdesenvolvidos, esculpidos pelos antigênios das mídias de massa. Ai do futuro de um povo que não cultiva e cativa seu bem máximo e inalienável: a língua.
PARA OS OLHOS VICIADOS EM IMAGENS.
PARA OS DEDOS QUE ORQUESTRAM TECLADOS.
O QUE VOCÊ NÃO LÊ NAS MANCHETES ESTARÁ AQUI.
PARA O TERROR DOS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE.
18 de dezembro de 2006
22 de novembro de 2006
A ESQUINA IMAGINÁRIA
Consultei o relógio antes mesmo de descer. Era 4:30h da manhã. Chegava eu de Belo Horizonte no Terminal Tietê. Os serviços de metrô e até mesmo do terminal ainda não funcionavam. Fiquei ali aguardando, assentado num daqueles muitos bancos. Quando enfim abriram o acesso ao metrô, uma pequena multidão se encaminhou para a escada rolante. Ao chegar próximo, vi que a escada estava ainda em manutenção e rolava ao contrário. Uma pequena platéia assistia à escada. Pela primeira vez presenciei uma escada com espectadores. Era a estrela daquele momento, celebridade instantânea como tantas. Quando, finalmente, os degraus se puseram a funcionar, só faltou àquela audiência ovacionar com palmas a escada. E aqueles paulistanos, ou não, correram em direção ao metrô.
Fiz essa introdução acima para chegar ao raciocínio: uma característica fatal dessa terra, dessas pessoas, é a maratona. Não há paulistano que não corra ao menos uma meia São Silvestre diuturnamente. Viver em São Paulo é correr para tudo e contra tudo. Mas eu vos digo: o paulistano corre ao encontro daquilo que o corrói.
Desde que aqui cheguei nutria uma curiosidade mórbida. Afinal, o que tinha de tão especial no cruzamento da Ipiranga com a São João? O que aconteceu com o coração do Caetano? Eis o que descobri, meus caros, essa esquina sequer existe. Trata-se de um devaneio, uma sátira sobre São Paulo. Caetano faria uma sátira? Perguntariam alguns. Repito, sim. Caetano é um grande brincalhão. Digo isso com todo respeito ao artista e ao homem.
Os idiotas da objetividade afirmarão com sua veemência: Mas existe sim essa intersecção. Eu já fui lá e vi. Estava lá, com seu lixo acumulado no canto das calçadas, com suas crianças nuas praticando malabares em busca da moeda da consolação. Pois eis aqui a verdade: A esquina Ipiranga com São João não existe mais, pois faleceu. Sua morte foi lenta e dolorosa, até que se escoou todo sangue. Esta esquina separa o samba-canção das baladas funks, a lerdeza dos bondinhos da veemência dos metrôs.
O centro de São Paulo é o retrato da fúria devastadora dessa cidade. Para se ver de longe é um local aparentemente agradável, com edifícios antediluvianos e avenidas arteriais. Todavia, o paulistano correu dali, como quem corre rumo ao próprio algoz. Afinal, o dinheiro fugira desse lugar. Ao passo disto, construíram avenidas, viadutos, arranha-céus. Mas toda essa pujança criou uma aridez de três desertos. E ainda agora querem acabar com os out doors, uma das poucas cambiantes que destoam do cinza pétreo dos edifícios.
Um dia, um amigo veio me dizer: “Se São Paulo se separasse do Brasil, seria uma Espanha sul americana”. Confesso que hesitei e também cogitei a possibilidade separatista. Mas vejam, conclui que se São Paulo fosse um país, seria sim talvez um novo Japão: rico, porém sem a irisada face do Brasileiro.
Quem fez São Paulo não foram apenas os paulistanos, mas os muitos imigrantes que aqui habitam. Pessoas que saíram do calor de sua família para entrarem na pulsação frenética dessa megalópole. Mas São Paulo acolhe a todos. Com uma sisudez britânica, sim. Mas é só deixar o tempo fluir, as garoas molharem, que o imigrante é capaz de sentir algo, lá no fundo do coração, quando cruza a famosa e feérica intersecção paulistana.
Fiz essa introdução acima para chegar ao raciocínio: uma característica fatal dessa terra, dessas pessoas, é a maratona. Não há paulistano que não corra ao menos uma meia São Silvestre diuturnamente. Viver em São Paulo é correr para tudo e contra tudo. Mas eu vos digo: o paulistano corre ao encontro daquilo que o corrói.
Desde que aqui cheguei nutria uma curiosidade mórbida. Afinal, o que tinha de tão especial no cruzamento da Ipiranga com a São João? O que aconteceu com o coração do Caetano? Eis o que descobri, meus caros, essa esquina sequer existe. Trata-se de um devaneio, uma sátira sobre São Paulo. Caetano faria uma sátira? Perguntariam alguns. Repito, sim. Caetano é um grande brincalhão. Digo isso com todo respeito ao artista e ao homem.
Os idiotas da objetividade afirmarão com sua veemência: Mas existe sim essa intersecção. Eu já fui lá e vi. Estava lá, com seu lixo acumulado no canto das calçadas, com suas crianças nuas praticando malabares em busca da moeda da consolação. Pois eis aqui a verdade: A esquina Ipiranga com São João não existe mais, pois faleceu. Sua morte foi lenta e dolorosa, até que se escoou todo sangue. Esta esquina separa o samba-canção das baladas funks, a lerdeza dos bondinhos da veemência dos metrôs.
O centro de São Paulo é o retrato da fúria devastadora dessa cidade. Para se ver de longe é um local aparentemente agradável, com edifícios antediluvianos e avenidas arteriais. Todavia, o paulistano correu dali, como quem corre rumo ao próprio algoz. Afinal, o dinheiro fugira desse lugar. Ao passo disto, construíram avenidas, viadutos, arranha-céus. Mas toda essa pujança criou uma aridez de três desertos. E ainda agora querem acabar com os out doors, uma das poucas cambiantes que destoam do cinza pétreo dos edifícios.
Um dia, um amigo veio me dizer: “Se São Paulo se separasse do Brasil, seria uma Espanha sul americana”. Confesso que hesitei e também cogitei a possibilidade separatista. Mas vejam, conclui que se São Paulo fosse um país, seria sim talvez um novo Japão: rico, porém sem a irisada face do Brasileiro.
Quem fez São Paulo não foram apenas os paulistanos, mas os muitos imigrantes que aqui habitam. Pessoas que saíram do calor de sua família para entrarem na pulsação frenética dessa megalópole. Mas São Paulo acolhe a todos. Com uma sisudez britânica, sim. Mas é só deixar o tempo fluir, as garoas molharem, que o imigrante é capaz de sentir algo, lá no fundo do coração, quando cruza a famosa e feérica intersecção paulistana.
16 de novembro de 2006
O FENÔMENO
Uma livraria é deveras um local agradabilíssimo. Notória é a satisfação que sinto quando caminho por algumas delas. Um ambiente que transcende cultura, exala sabedoria, desprende o raciocínio. Os passeios nas livrarias deveriam ocorrer entre famílias, como se fora um domingo na praia, com crianças montando castelinhos de livros e o pai se espreguiçando num dos sofás das salas de leitura.
Eis que nos últimos tempos, venho notado um fenômeno entre os títulos expostos nas prateleiras. Há um assunto em comum, cogente entre as novas obras literárias. Todas vindouras do fenômeno que se compreendeu o “Código da Vinci”. Eis que nesses tempos, tal obra tornou-se a vedete nas bibliotecas particulares, nas mãos dos usuários de ônibus e metrôs. Fato esse que me causou uma exclamação: “O brasileiro está finalmente lendo!”.
Fui buscar compreender o fato, e cheguei a um senso comum: A questão não é o brasileiro que está reaprendendo a ler, mas sim a possibilidade da destruição de um mito é que fascina qualquer ser humano. Eis onde pretendo chegar. O “Código da Vinci” não é um fenômeno apenas por ser uma obra literária relativamente boa, mas sim porque trata de açoitar a imagem de Jesus Cristo.
Sim, meu caro leitor, cá estou eu novamente falando dele. Não poderia ser tão diferente. Jesus Cristo é um sucesso mercadológico nababesco. Tudo o que se refere, ou pretende se referir a ele, é um best seller nato e hereditário. Mas o “Código” procurou um oposto. Destrinchou a obra de Leonardo da Vinci e buscou nela as manchas do passado obscuro de Cristo. Esse assunto somado a uma linguagem pretensamente científica foram o suficiente para embalsamar o produto entre os mais vendidos no mundo.
Há muito que o cristianismo se tornou um negócio amplamente vantajoso. O temor humano, suas crises e misérias são demanda para todo esse business, pois a crença em um salvador, um messias redentor é a esperança que muitos (milhões) se agarram para não saltarem do oitavo andar. Mas eis a constatação: o cristianismo de hoje nada tem a ver com Jesus Cristo. Ele foi um grande líder, um sindicalista de Jerusalém, um sem-terra nazareno. O que Cristo pregou na sua passagem terrena resume-se na solidariedade humana e na igualdade entre os povos. Os adendos bíblicos foram criados pelos evangelistas e disseminados pelo mundo. Atribuíram a ele alguns milagres e foi o bastante para que ele fosse aclamado como o “salvador”.
Vejam bem, meus caros, não discordo da possibilidade de que Cristo tenha sido um paranormal, um espiritualista. O fato que realmente contribuiu para o crescimento do cristianismo e a seqüente destruição de sua essência foi a ganância humana. Sim, desde vivo, Jesus atraia multidões. Seus discípulos enxergaram naquilo um grande negócio, uma forma de se locupletar da crença do povo. E assim, fundaram a igreja e se propuseram a dar prosseguimento ao discurso de Cristo. Conseguiram assim o subsídio do povo com a promessa de que “Ele voltará”.
Nesses nossos dias observamos toda a veemência dos pastores evangélicos, todo o discurso sutilmente persuasivo dos padres. Porém todos são apenas filósofos que encontraram na religiosidade uma forma de se sustentarem com sua retórica. Minha crítica não vai para os fiéis seguidores cristãos. Em absoluto. Eles são vítimas. Mas sim, vai para os padres de passeata, para os políticos coroinhas. E caminhando mais a fundo, essas palavras vão para os responsáveis por dois milênios de repressão sexual (sobretudo o feminino, pois as prostitutas não pagam impostos), vão também para os defensores da hipocrisia dos casamentos, para aqueles que pregam o sacrifício em busca do reino dos céus. E claro, não podiam faltar os mais abjetos: aqueles que cobram dízimos obrigatórios sob a ameaça de uma condenação eterna.
Vejam que é minha pretensão não vos cansar com delongas, meus caros leitores. Admito, faço o mea culpa, pois vejo me excedi nas muitas palavras.
Eis que nos últimos tempos, venho notado um fenômeno entre os títulos expostos nas prateleiras. Há um assunto em comum, cogente entre as novas obras literárias. Todas vindouras do fenômeno que se compreendeu o “Código da Vinci”. Eis que nesses tempos, tal obra tornou-se a vedete nas bibliotecas particulares, nas mãos dos usuários de ônibus e metrôs. Fato esse que me causou uma exclamação: “O brasileiro está finalmente lendo!”.
Fui buscar compreender o fato, e cheguei a um senso comum: A questão não é o brasileiro que está reaprendendo a ler, mas sim a possibilidade da destruição de um mito é que fascina qualquer ser humano. Eis onde pretendo chegar. O “Código da Vinci” não é um fenômeno apenas por ser uma obra literária relativamente boa, mas sim porque trata de açoitar a imagem de Jesus Cristo.
Sim, meu caro leitor, cá estou eu novamente falando dele. Não poderia ser tão diferente. Jesus Cristo é um sucesso mercadológico nababesco. Tudo o que se refere, ou pretende se referir a ele, é um best seller nato e hereditário. Mas o “Código” procurou um oposto. Destrinchou a obra de Leonardo da Vinci e buscou nela as manchas do passado obscuro de Cristo. Esse assunto somado a uma linguagem pretensamente científica foram o suficiente para embalsamar o produto entre os mais vendidos no mundo.
Há muito que o cristianismo se tornou um negócio amplamente vantajoso. O temor humano, suas crises e misérias são demanda para todo esse business, pois a crença em um salvador, um messias redentor é a esperança que muitos (milhões) se agarram para não saltarem do oitavo andar. Mas eis a constatação: o cristianismo de hoje nada tem a ver com Jesus Cristo. Ele foi um grande líder, um sindicalista de Jerusalém, um sem-terra nazareno. O que Cristo pregou na sua passagem terrena resume-se na solidariedade humana e na igualdade entre os povos. Os adendos bíblicos foram criados pelos evangelistas e disseminados pelo mundo. Atribuíram a ele alguns milagres e foi o bastante para que ele fosse aclamado como o “salvador”.
Vejam bem, meus caros, não discordo da possibilidade de que Cristo tenha sido um paranormal, um espiritualista. O fato que realmente contribuiu para o crescimento do cristianismo e a seqüente destruição de sua essência foi a ganância humana. Sim, desde vivo, Jesus atraia multidões. Seus discípulos enxergaram naquilo um grande negócio, uma forma de se locupletar da crença do povo. E assim, fundaram a igreja e se propuseram a dar prosseguimento ao discurso de Cristo. Conseguiram assim o subsídio do povo com a promessa de que “Ele voltará”.
Nesses nossos dias observamos toda a veemência dos pastores evangélicos, todo o discurso sutilmente persuasivo dos padres. Porém todos são apenas filósofos que encontraram na religiosidade uma forma de se sustentarem com sua retórica. Minha crítica não vai para os fiéis seguidores cristãos. Em absoluto. Eles são vítimas. Mas sim, vai para os padres de passeata, para os políticos coroinhas. E caminhando mais a fundo, essas palavras vão para os responsáveis por dois milênios de repressão sexual (sobretudo o feminino, pois as prostitutas não pagam impostos), vão também para os defensores da hipocrisia dos casamentos, para aqueles que pregam o sacrifício em busca do reino dos céus. E claro, não podiam faltar os mais abjetos: aqueles que cobram dízimos obrigatórios sob a ameaça de uma condenação eterna.
Vejam que é minha pretensão não vos cansar com delongas, meus caros leitores. Admito, faço o mea culpa, pois vejo me excedi nas muitas palavras.
11 de novembro de 2006
MARX DE BOLSO
Quando Jesus Cristo afirmou “Diga-me com quem andas, que eu te direi quem és”, houve aqui a institucionalização do preconceito. A sabedoria do homem de Nazaré é notória. Afinal, como explicar os dois mil anos de cristianismo? Mas aqui ele, até mesmo ele, teve uma infeliz colocação. Vejo Jesus Cristo como um grande líder, um homem que marcou seu tempo. Mas vejam, leitores, até o grande homem comete equívocos.
Fiz essa breve (e sei polêmica) introdução para falar sobre os fenômenos sociais. O homem à partir de que começou a viver em sociedade nunca mais foi o mesmo. Temos uma essência solitária, introspectiva. Vivemos em sociedade apenas e somente por sobrevivência. Esse conflito entre o homem só e o homem social é marcante em nossa espécie. Temos em nós mesmos marcas depressivas, profundas, que são mascaradas por sorrisos sociais. Ao que se percebe, o homem nutri um medo absurdo de si mesmo. Não nos aturamos como somos. Precisamos a cada momento nos travestir de ilusões para sermos compreendidos e aceitos por um grupo. Tudo para não nos depararmos conosco mesmo no espelho.
E quando a solidão nos é inexcedível, surge a perspectiva de pequenos grupos, aos quais se convencionou chamar de tribos. Elas possuem a missão de aglutinar seres perdidos nesse mundo em busca de identificação. É interessante notar que esses cardumes humanos exigem preceitos e regras. Há que se pensar assim, que se vestir assaz, que se comportar assado. Ocorre nesse instante uma sublimação do individual em busca da carteirinha acessiva às tribos.
Mas agora chego onde pretendo. Vem surgindo uma modalidade de tribos perigosa, assustadora. Formada por jovens egressos de universidades os quais possuem, cada um deles, o seu Marx de bolso, sua carteirinha do niilismo com foto 3x4. Pessoas que se acastelam num idealismo infundado, e agem com uma pretensão intelectual patética. Geralmente, são partidários do socialismo utópico, mas leram apenas as orelhas dos livros de Engels. São o que a categoria dos catedráticos chamariam de cultos de enciclopédia. Eles não defendem uma idéia, mas sim uma pose. Muitos deles se dizem ateus, herbívoros, naturalistas, macrobióticos, mas escondem uma hipocrisia repaginada e, geralmente, mascarada pela sua veemência ao falar.
O que mais apavora é que esses jovens são pretensamente os futuros deputados, ativistas, executivos. Eles farão o Brasil do futuro. Discutirão a revolução do proletariado encerrados em uma sala carpetada e com um ar condicionado polar, e lindamente instalada num edifício com um chafariz no rol de entrada. Os neo-marxistas são consumistas vorazes, porém, jamais abandonam o discurso inflamado sobre a fome no nordeste. A profundidade de seus raciocínios se confunde com a de um pires. E outra característica são as freqüentes citações. Os jovens revolucionários do século XXI adoram declamar citações. Até mesmo quando lhe dizem um inocente “Bom dia”, eis que vêm os dois pontos e as aspas pedantes. Isso sem sequer compreender a complexidade do que se proferiu.
É por isso que eu tenho a convicção de que a leitura deve ser sempre antropofágica. É preciso não apenas que ler, mas sim degustar, engolir e depois excretar o que se leu. Além disso, vejo que há de se abandonar a hipocrisia idealista, pois ela corrói sadicamente o âmago de qualquer expectativa de mudança.
Fiz essa breve (e sei polêmica) introdução para falar sobre os fenômenos sociais. O homem à partir de que começou a viver em sociedade nunca mais foi o mesmo. Temos uma essência solitária, introspectiva. Vivemos em sociedade apenas e somente por sobrevivência. Esse conflito entre o homem só e o homem social é marcante em nossa espécie. Temos em nós mesmos marcas depressivas, profundas, que são mascaradas por sorrisos sociais. Ao que se percebe, o homem nutri um medo absurdo de si mesmo. Não nos aturamos como somos. Precisamos a cada momento nos travestir de ilusões para sermos compreendidos e aceitos por um grupo. Tudo para não nos depararmos conosco mesmo no espelho.
E quando a solidão nos é inexcedível, surge a perspectiva de pequenos grupos, aos quais se convencionou chamar de tribos. Elas possuem a missão de aglutinar seres perdidos nesse mundo em busca de identificação. É interessante notar que esses cardumes humanos exigem preceitos e regras. Há que se pensar assim, que se vestir assaz, que se comportar assado. Ocorre nesse instante uma sublimação do individual em busca da carteirinha acessiva às tribos.
Mas agora chego onde pretendo. Vem surgindo uma modalidade de tribos perigosa, assustadora. Formada por jovens egressos de universidades os quais possuem, cada um deles, o seu Marx de bolso, sua carteirinha do niilismo com foto 3x4. Pessoas que se acastelam num idealismo infundado, e agem com uma pretensão intelectual patética. Geralmente, são partidários do socialismo utópico, mas leram apenas as orelhas dos livros de Engels. São o que a categoria dos catedráticos chamariam de cultos de enciclopédia. Eles não defendem uma idéia, mas sim uma pose. Muitos deles se dizem ateus, herbívoros, naturalistas, macrobióticos, mas escondem uma hipocrisia repaginada e, geralmente, mascarada pela sua veemência ao falar.
O que mais apavora é que esses jovens são pretensamente os futuros deputados, ativistas, executivos. Eles farão o Brasil do futuro. Discutirão a revolução do proletariado encerrados em uma sala carpetada e com um ar condicionado polar, e lindamente instalada num edifício com um chafariz no rol de entrada. Os neo-marxistas são consumistas vorazes, porém, jamais abandonam o discurso inflamado sobre a fome no nordeste. A profundidade de seus raciocínios se confunde com a de um pires. E outra característica são as freqüentes citações. Os jovens revolucionários do século XXI adoram declamar citações. Até mesmo quando lhe dizem um inocente “Bom dia”, eis que vêm os dois pontos e as aspas pedantes. Isso sem sequer compreender a complexidade do que se proferiu.
É por isso que eu tenho a convicção de que a leitura deve ser sempre antropofágica. É preciso não apenas que ler, mas sim degustar, engolir e depois excretar o que se leu. Além disso, vejo que há de se abandonar a hipocrisia idealista, pois ela corrói sadicamente o âmago de qualquer expectativa de mudança.
3 de novembro de 2006
CARNAVAL DOS EPILÉTICOS
Falei outro dia, aqui mesmo nesse espaço, sobre o estupro consentido. Alguns amigos vieram me objetar contra-argumentando que se é consentido, não se conota o estupro. Pois eu vos digo: ele existe e é muito mais comum do que se pode presumir. Está em todas as partes, nas esquinas movimentadas, nas raves emaconhadas, nos cocos dos cachorros. Esse ato hediondo (ou bárbaro, como queiram) é muito nosso e inerente ao brasileiro. A reeleição do presidente Lula é a encenação perfeita, flagrante, peremptória da permissão concedida ao estuprador.
Mas não é sobre isso que eu pretendo falar. Esses assuntos sobre eleições tornaram-se passado. C’est fini, como diria minha amiga Flávia que está de partida para Sorbonne. Que tenha sorte naquela terra sofisticada, com sotaques estilísticos e gastronomia esquisita. Leve muito feijão, pois o brasileiro sem feijão é o anti brasileiro. Eu quero chegar ao assunto dessa crônica sem mais digressões.
Fui ao cinema há alguns dias para assistir ao belíssimo filme “O Ano em que meus pais saíram de férias”. Fita de altíssima qualidade. Fotografia primorosa e roteiro cativante. Mas antes mesmo do inicio da história, me veio o tema dessa crônica à cabeça. Confesso que passei boa parte do filme emendando raciocínios e conclusões pertinentes para esse texto sem sequer perder um diálogo, uma ação. Tudo isso graças aos créditos que se impuseram gigantes bem a minha frente os quais citavam o apoio irrestrito da gloriosa Ancine e da nossa amada Petrobrás. Ah, se não fosse por eles, estaríamos nós ainda vítimas das fitas americanas e suas legendas mais rápidas que a Ferrari de Michael Schumacher. Pois eis o que eu gostaria de falar.
A Ancine foi criada com um intuito fatal de facilitar e incentivar a produção cinematográfica no Brasil. Mas o que ocorre é uma verdade mentirosa. Para uma produtora pequena ou média conseguir submeter um projeto entre os arquivos e escrivões que habitam essa fundação, é preciso um trabalho hercúleo, nababesco. O que dirá o meu amigo, mestre e o futuro grande cineasta do Brasil, Tiaraju Aronovich. Certo dia, ele nos relatou sobre sua epopéia para conseguir aprovar um projeto nessa lei de incentivo fictícia. É tamanha burocracia que nem compensa relatar aqui. Se eu o fizesse, reescreveria um novo “Os Sertões”.
Críticas a esse trabalho extremamente burocrático existem entre todos os artistas brasileiros. Mas eu quero atentar para outra realidade. A Ancine é uma obra genuinamente brasileira. Ela trabalha com esses paradigmas, por que ela é vítima do próprio brasileiro. Nossa burocracia existe para nos defendermos de nós mesmos. Não é uma Ancine, ou uma Lei Rouanet que nos impede de construir um desenvolvimento nas artes, mas sim o próprio brasileiro.
Resta aos nossos artistas praticarem o cinema de guerrilha. Onde os recursos são menores e também os orçamentos, mas não a arte. A arte não se precifica. Ela é o fruto de um estudo, de um trabalho. E não há burocracia mundana que derrube um sonho, isso se esse sonho realmente existir. E torçamos para que a Ancine saia de férias. Não apenas por um ano, mas por longos e epiléticos carnavais.
Mas não é sobre isso que eu pretendo falar. Esses assuntos sobre eleições tornaram-se passado. C’est fini, como diria minha amiga Flávia que está de partida para Sorbonne. Que tenha sorte naquela terra sofisticada, com sotaques estilísticos e gastronomia esquisita. Leve muito feijão, pois o brasileiro sem feijão é o anti brasileiro. Eu quero chegar ao assunto dessa crônica sem mais digressões.
Fui ao cinema há alguns dias para assistir ao belíssimo filme “O Ano em que meus pais saíram de férias”. Fita de altíssima qualidade. Fotografia primorosa e roteiro cativante. Mas antes mesmo do inicio da história, me veio o tema dessa crônica à cabeça. Confesso que passei boa parte do filme emendando raciocínios e conclusões pertinentes para esse texto sem sequer perder um diálogo, uma ação. Tudo isso graças aos créditos que se impuseram gigantes bem a minha frente os quais citavam o apoio irrestrito da gloriosa Ancine e da nossa amada Petrobrás. Ah, se não fosse por eles, estaríamos nós ainda vítimas das fitas americanas e suas legendas mais rápidas que a Ferrari de Michael Schumacher. Pois eis o que eu gostaria de falar.
A Ancine foi criada com um intuito fatal de facilitar e incentivar a produção cinematográfica no Brasil. Mas o que ocorre é uma verdade mentirosa. Para uma produtora pequena ou média conseguir submeter um projeto entre os arquivos e escrivões que habitam essa fundação, é preciso um trabalho hercúleo, nababesco. O que dirá o meu amigo, mestre e o futuro grande cineasta do Brasil, Tiaraju Aronovich. Certo dia, ele nos relatou sobre sua epopéia para conseguir aprovar um projeto nessa lei de incentivo fictícia. É tamanha burocracia que nem compensa relatar aqui. Se eu o fizesse, reescreveria um novo “Os Sertões”.
Críticas a esse trabalho extremamente burocrático existem entre todos os artistas brasileiros. Mas eu quero atentar para outra realidade. A Ancine é uma obra genuinamente brasileira. Ela trabalha com esses paradigmas, por que ela é vítima do próprio brasileiro. Nossa burocracia existe para nos defendermos de nós mesmos. Não é uma Ancine, ou uma Lei Rouanet que nos impede de construir um desenvolvimento nas artes, mas sim o próprio brasileiro.
Resta aos nossos artistas praticarem o cinema de guerrilha. Onde os recursos são menores e também os orçamentos, mas não a arte. A arte não se precifica. Ela é o fruto de um estudo, de um trabalho. E não há burocracia mundana que derrube um sonho, isso se esse sonho realmente existir. E torçamos para que a Ancine saia de férias. Não apenas por um ano, mas por longos e epiléticos carnavais.
30 de outubro de 2006
PASSIVIDADE VOCACIONAL
Perante um júri popular inerte e uma platéia ainda mais embasbacada, a vítima declarava em plenos pulmões para quem quisesse ouvir, gravar e reproduzir nas mídias afins. Ela tinha a aparência frágil, um olhar manso, a voz aguda e baixa. Mas sua decisão ao falar era flagrante. Dizia então, a pobre senhorita. “Eu deixei. Eu quis assim.”. Diante de um alarido ovacionado, ela prosseguia. “Ele não tem culpa de nada. Fui eu quem provocou tudo isso.”. O juiz, na sua experiência quase egípcia, se engasgou com a própria saliva. O escrivão trançou os dedos de uma forma que nem uma palavra mais saia de sua velha máquina. A mãe da vítima, em estado de choque, foi levada ás pressas para o hospital mais próximo, enquanto o tio regozijava-se “Essa aí nunca me enganou”. Como se não bastasse tamanha pusilanimidade, a menina complementou com um ar patético, “Se houver de novo, eu deixo. Tantas quantas quiser”. O juiz encerrou a sessão com seu martelo definitivo, já sem paciência para escutar o resto. Terminou assim, sem um veredicto, sem a opinião dos júris. O réu saiu do tribunal caminhando sem que ninguém o tocasse. Foi pra rua fumar um cigarro de uma brasa torrida.
Essa cena acima é o que chamo de verossimilhança mórbida. Talvez não me entendam, por isso vou tentar explicar. A vitima, o réu, o júri, o juiz, a mãe, o tio, todos existem de verdade. Possuem pele, osso, cara e pêlos nos dedos. Cada um no seu universo, com sua história, seus traumas, suas alegrias, suas vidas. Fisicamente eles nunca se encontraram. O que houve foi um encontro de consciências, de almas. Creio estar sendo ainda evasivo. Tentarei ser mais preciso.
O crime em pauta é um estupro. Considerado hediondo pela lei e pelo senso comum. Desde há muito, tido como uma violação do bem sagrado dos limites de liberdade. Um estuprador é a escória social. Ele concentra em si tudo que há de mais pervertido e obsceno em um ser humano. Aqui ele seria perfeitamente condenado e levado para as celas imundas e abarrotadas de tarados em potencial. Mas esse criminoso saiu indelével, foi para a esquina fumar seu cigarro. A estuprada foi para casa com um senso de justiça insofismável. Afinal, se houve consentimento, não há crime. O estupro consentido é o crime sem criminosos.
Creio ter chegado ao ponto que gostaria. No ultimo domingo nós absolvemos com louvores o estuprador. E ele se foi acender o cigarro com a chama da nossa aquiescência, e a brasa brilhou como se fora uma luz na escuridão. E o estuprador fumou até a gimba o cigarro da nossa passividade. Nós, os estuprados, gostamos do que vimos. Sentimos o mesmo prazer masoquista da vítima supracitada. E ainda complementamos patéticamente: “Queremos mais”.
Agora não há juiz, não há júri que consiga impedir o estuprador de sair porta á fora sem maiores entraves. Pois, eu repito, no consentimento não há crime. Não nos importamos se nossa mãe história tenha tido um mal súbito no momento do sufrágio. A decisão está tomada e é irreversível e cruel.
Somos o povo já deflorado, que se acostumou com os estupros históricos e não nos chocamos com tal constrangimento. Essa idéia de crime e castigo, de culpados na cadeia é coisa do tempo dos nossos avós. Hoje em dia tornou-se tudo uma sopa única, massificada. E como tinha razão aquele tio sardônico. Esse povo continua o mesmo. Não engana mais a ninguém.
Essa cena acima é o que chamo de verossimilhança mórbida. Talvez não me entendam, por isso vou tentar explicar. A vitima, o réu, o júri, o juiz, a mãe, o tio, todos existem de verdade. Possuem pele, osso, cara e pêlos nos dedos. Cada um no seu universo, com sua história, seus traumas, suas alegrias, suas vidas. Fisicamente eles nunca se encontraram. O que houve foi um encontro de consciências, de almas. Creio estar sendo ainda evasivo. Tentarei ser mais preciso.
O crime em pauta é um estupro. Considerado hediondo pela lei e pelo senso comum. Desde há muito, tido como uma violação do bem sagrado dos limites de liberdade. Um estuprador é a escória social. Ele concentra em si tudo que há de mais pervertido e obsceno em um ser humano. Aqui ele seria perfeitamente condenado e levado para as celas imundas e abarrotadas de tarados em potencial. Mas esse criminoso saiu indelével, foi para a esquina fumar seu cigarro. A estuprada foi para casa com um senso de justiça insofismável. Afinal, se houve consentimento, não há crime. O estupro consentido é o crime sem criminosos.
Creio ter chegado ao ponto que gostaria. No ultimo domingo nós absolvemos com louvores o estuprador. E ele se foi acender o cigarro com a chama da nossa aquiescência, e a brasa brilhou como se fora uma luz na escuridão. E o estuprador fumou até a gimba o cigarro da nossa passividade. Nós, os estuprados, gostamos do que vimos. Sentimos o mesmo prazer masoquista da vítima supracitada. E ainda complementamos patéticamente: “Queremos mais”.
Agora não há juiz, não há júri que consiga impedir o estuprador de sair porta á fora sem maiores entraves. Pois, eu repito, no consentimento não há crime. Não nos importamos se nossa mãe história tenha tido um mal súbito no momento do sufrágio. A decisão está tomada e é irreversível e cruel.
Somos o povo já deflorado, que se acostumou com os estupros históricos e não nos chocamos com tal constrangimento. Essa idéia de crime e castigo, de culpados na cadeia é coisa do tempo dos nossos avós. Hoje em dia tornou-se tudo uma sopa única, massificada. E como tinha razão aquele tio sardônico. Esse povo continua o mesmo. Não engana mais a ninguém.
26 de outubro de 2006
DISFARCE E LEIA
Esse caminho pelo qual pretendo me enveredar é um túnel sem luz ao cabo. Uma experiência de quase morte sem oxigênio bastante para respirar. Normal seria prestar algum concurso público ou entrar em alguma grande coorporação. Mas meus genes e entranhas não permitem isso. Prefiro caminhar pela arte e, se eu morrer na sarjeta, seria patético, mas nada improvável. Tenho ainda a minha juventude para viver e essas idéias podem parecer idealismos delirantes inerentes à idade. “Com o tempo passa” diria alguma tia de crochê.
Hoje estou inaugurando um novo espaço virtual. Nele vou deixar um pouco sobre o que eu penso. Ainda nem faço idéia se encontrarei leitores. Aliás, essa palavra vem se tornando um palavrão, uma obscenidade. O camarada que chega a um grupo de amigos e comenta a ultima crônica do Jabor, decerto vai ouvir: “Ah, aquele que fala no Jornal Nacional”.
Eis o drama, meus caros. A verdade está dita, mas não serei prolixo. Vou tentar explicar sem ser auto explicativo (para o alívio de alguns). Os meios de comunicação de massa cozinharam os cérebros dos brasileiros durante 50 anos. O intuito dessa lavagem é ainda mais cruel. A TV é um salmo responsorial, onde o telespectador afundado em seu sofá faz o sinal da cruz a cada “Boa noite” do William Bonner. De carona com a TV, vem a Internet onde pipocam os banners, flogs e outros afins imagéticos. A grande rede teria uma tábua de salvação: a interatividade. Hoje o homem se vê diante do desafio de receber um impulso e responder na mesma força e proporção.
Desafio: essa é a palavra. Depois de décadas de passividade, somos impelidos a nos travestir de opiniões e colocar algo para o mundo. Cada um tem que ter a sua pose, o seu Marx de bolso. Mas eis o drama maior. O brasileiro não sabe ler, e, por conseqüência, fica mudo como uma estátua de Michelangelo diante do “parla!!”. Assim, vemos um grande lixo virtual produzido pela nossa massa iletrada. Aqueles que têm acesso à grande rede criaram uma língua que deve ser qualquer outra, menos o nosso Português. Escarram, execram sobre a nossa gramática. E o mais assombroso é que às vezes o fazem não por desconhecimento das normas, mas por uma questão de afirmação social perante os amigos.
Por isso foi criado esse hiato para ser lido com os olhos e com os dedos. Um espaço onde o brasileiro pode ser sim “O leitor” sem maiores vergonhas. Aqui falaremos de assuntos intrínsecos como sociologia, política, artes e até futebol. E você poderá (e deverá) deixar sua opinião. Mas, cuidado, acesse-o tarde da noite. Coloque entre os “Favoritos” disfarçando o nome, como “Safadinhas da net”. Não se avexe. Mas lembrem-se, ler é a arte de reler.
Hoje estou inaugurando um novo espaço virtual. Nele vou deixar um pouco sobre o que eu penso. Ainda nem faço idéia se encontrarei leitores. Aliás, essa palavra vem se tornando um palavrão, uma obscenidade. O camarada que chega a um grupo de amigos e comenta a ultima crônica do Jabor, decerto vai ouvir: “Ah, aquele que fala no Jornal Nacional”.
Eis o drama, meus caros. A verdade está dita, mas não serei prolixo. Vou tentar explicar sem ser auto explicativo (para o alívio de alguns). Os meios de comunicação de massa cozinharam os cérebros dos brasileiros durante 50 anos. O intuito dessa lavagem é ainda mais cruel. A TV é um salmo responsorial, onde o telespectador afundado em seu sofá faz o sinal da cruz a cada “Boa noite” do William Bonner. De carona com a TV, vem a Internet onde pipocam os banners, flogs e outros afins imagéticos. A grande rede teria uma tábua de salvação: a interatividade. Hoje o homem se vê diante do desafio de receber um impulso e responder na mesma força e proporção.
Desafio: essa é a palavra. Depois de décadas de passividade, somos impelidos a nos travestir de opiniões e colocar algo para o mundo. Cada um tem que ter a sua pose, o seu Marx de bolso. Mas eis o drama maior. O brasileiro não sabe ler, e, por conseqüência, fica mudo como uma estátua de Michelangelo diante do “parla!!”. Assim, vemos um grande lixo virtual produzido pela nossa massa iletrada. Aqueles que têm acesso à grande rede criaram uma língua que deve ser qualquer outra, menos o nosso Português. Escarram, execram sobre a nossa gramática. E o mais assombroso é que às vezes o fazem não por desconhecimento das normas, mas por uma questão de afirmação social perante os amigos.
Por isso foi criado esse hiato para ser lido com os olhos e com os dedos. Um espaço onde o brasileiro pode ser sim “O leitor” sem maiores vergonhas. Aqui falaremos de assuntos intrínsecos como sociologia, política, artes e até futebol. E você poderá (e deverá) deixar sua opinião. Mas, cuidado, acesse-o tarde da noite. Coloque entre os “Favoritos” disfarçando o nome, como “Safadinhas da net”. Não se avexe. Mas lembrem-se, ler é a arte de reler.
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